Desenvolvimento
econômico versus patentes no Brasil: um ensaio sob a ótica da
teoria de Schumpeter
Após a Segunda Guerra
Mundial, os países começaram a tratar o desenvolvimento econômico
com uma visão conceitual mais abrangente, por meio de indicadores
usados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os países mais
desenvolvidos possuem elevado padrão de vida, dado a melhor
distribuição de renda e nível tecnológico de ponta, e dentre as
características dos mesmos destacam-se: utilização eficiente dos
fatores de produção, dos recursos naturais, ordem econômica e
qualidade elevada dos produtos manufaturados.
Dessa forma, o debate
aqui apresentado coloca em questão a relevância da evolução dos
pedidos de patentes no Brasil, e o seu papel no processo de
desenvolvimento econômico. Resgatar a discussão desse tema coloca
sob reflexão, as políticas adotadas pelo governo brasileiro na
busca de alcançar níveis elevados de desenvolvimento econômico, e
maior inserção do Brasil na economia mundial.
Desenvolvimento
econômico, não significa apenas aumento de renda per capita e
condições salariais médias satisfatórias ou melhores padrões de
vida; o que deve ser levado em consideração são as transformações
estruturais da economia. Schumpeter foi o primeiro economista a
afirmar, que o desenvolvimento econômico implica em transformações
estruturais, que o simples crescimento da renda per capita não
assegura o desenvolvimento econômico, e usou a distinção entre
desenvolvimento econômico e crescimento para salientar a ausência
de lucro econômico no fluxo circular onde, no máximo, ocorreria
crescimento, e para mostrar a relevância da inovação, ou seja, de
investimento com incorporação do progresso técnico, no verdadeiro
processo de desenvolvimento econômico (BRESSER-PEREIRA, 2006).
Schumpeter deixa
explícito que os meios de produção necessários às novas
combinações não estão ociosos, à espera para serem empregados na
produção de novos bens. Os recursos para viabilizar as novas
combinações já estão disponíveis na sociedade, estando
empregados em atividades que compõem o fluxo circular. São as novas
maneiras de combiná-los, retirando-os dos locais onde se acham
empregados e alocando-os em novas atividades, que se vão produzir,
então, o que Schumpeter chamou de desenvolvimento econômico (COSTA,
2006, p. 6).
De acordo com Schumpeter,
o capitalismo se desenvolve em função do surgimento de pessoas que
possam empreender, e essa capacidade seria responsável pelo
desenvolvimento econômico, nesse sentido, a figura do empresário
inovador é de grande relevância para colocar produtos novos no
mercado, originadas de combinações dadas de modo mais produtivo dos
fatores de produção e por ter colocado em prática qualquer
invenção, o que será responsável pelo aumento do lucro do
empresário.
Para os países em que a
economia não atingiu um nível de desenvolvimento capaz de atender
aos anseios da sociedade em seu conjunto, faz-se necessário, que o
Estado articule a economia para os caminhos do desenvolvimento no
qual o horizonte de tempo seja o longo prazo, com instrumentos de
política econômica que, fundamentalmente, possam aumentar o
progresso tecnológico por meio da inovação e competitividade
internacional. A pesquisa e o desenvolvimento para produção de
novos bens implicam em manter a economia sempre em ritmo de
crescimento, e patentear uma invenção, significa tornar possível a
fabricação e comercialização de um novo produto, o que provoca a
geração de emprego e renda.
Nesse contexto, de acordo
com o Programa de Propriedade Intelectual para a Inovação na
Indústria, em termos de investimento, com base nos dados do
Ministério de Ciência e Tecnologia de 2009, o Brasil investiu 1,42%
do seu PIB em ciência e tecnologia, é uma taxa considerada baixa
quando se compara a outros países de industrialização tardia. Os
indicadores contidos no relatório da Organização Mundial da
Propriedade Intelectual de 2009 mostram que no Brasil (dados
referentes a 2006) 84,2% dos pedidos de patentes depositados no
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) foram de
não-residentes, e que 90,2% das patentes concedidas também eram de
não-residentes.
Para ampliar a discussão,
no que se refere aos pedidos de patentes, observa-se no Gráfico 1,
que ao longo do período de 1997 a 2007, três fases marcam os
pedidos de patentes no Brasil, ou seja, de 1997 a 1998 ocorre uma
redução, de 1999 a 2004, observa-se crescimento, de 2005 a 2007,
ocorre retração dos pedidos de patentes.
Gráfico 1 – Evolução
dos pedidos de patentes1 no Brasil
Fonte: Elaboração
própria a partir de dados do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial – INPI - www.inpi.gov.br (2010).
É preciso reverter a
diminuição do número de pedidos de patentes no Brasil, observada
nos últimos anos, como revelam os números no Gráfico 1, divulgados
pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, para que seja
possível a produção e exportação de produtos de alta tecnologia
e valor agregado. Até quando o Brasil se acomodará ao papel de
grande produtor e exportador de produtos do setor primário?
Faz-se necessário
instituir um modelo econômico pautado no desenvolvimento de novos
mercados, e tal processo pode ser alcançado através do rompimento
da ausência de cultura empreendedora que caracteriza a sociedade
brasileira; é neste momento, que o pensamento criativo do empreender
será a alavanca propulsora do surgimento de produtos responsáveis
por gerar emprego e renda. É com essa perspectiva que os negócios
poderão ser planejados desde a criação até a sua consolidação
no mercado, além dessas considerações, as instituições de ensino
e pesquisa no Brasil devem passar por transformações estruturais
com o objetivo de estreitar as relações com as empresas, tornando
assim, o desenvolvimento de novos produtos um processo contínuo.
Autor: Danillo Teles de
Britto Bispo
Economista pela
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC
Referências
BRESSER-PEREIRA, Luiz
Carlos. Desenvolvimento, crescimento e salários. Texto para
Discussão EESP/FGV n.169. Versão de 14 de agosto de 2008.
Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=2764>.
Acesso em: 26 mar. 2010. p. 1-33.
COSTA, Achyles Barcelos
da. O desenvolvimento econômico na visão de Joseph Schumpeter. Ano
4 - nº 47 - 2006 - 1679-0316. Disponível em:
<http//www.ihu.unisinos.br/uploads/publicações/edições/1158329722.22pdf>.
Acesso em: 31 mar. 2010. p. 1-22.
PROGRAMA DE PROPRIEDADE
INTELECTUAL PARA A INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA. Números. Patentes no
Brasil. Disponível em:
<http://www.propintelectual.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=47&Itemid=53>.
Acesso em: 6 ago. 2010.
Considerações
sobre o “subdesenvolvimento” brasileiro
Por que é tão
recorrente a discussão acerca de questões que colocam a economia
brasileira com características de país subdesenvolvido? Existem
alguns aspectos que marcam a sociedade brasileira: a concentração
de renda, o colonialismo cultural, as grandes disparidades regionais
– no que se refere à geração de emprego, renda e salários – e
ausência de uma educação libertadora. Tais condições estão
presentes no Brasil já faz alguns séculos.
Entre os vários
intelectuais que trataram de estudar os problemas econômicos e
sociais do Brasil merece destaque, ultrapassando as fronteiras da
América Latina, o economista Celso Furtado (1920-2004), um brilhante
pensador e expoente da corrente estruturalista que dedicou sua
trajetória no estudo da gênese da economia brasileira. O pensamento
furtadiano continua moderno, mesmo tendo se passado meio século
desde suas primeiras obras. No centro de suas discussões sempre
protagonizaram as raízes e impactos do subdesenvolvimento, temas que
continuam contemporâneos, pois os problemas de cunho estrutural
abordados por Furtado, ainda são visíveis na realidade econômica e
social do País.
A teoria do
subdesenvolvimento cuida do caso especial de processos sociais em que
aumentos de produtividade e assimilação de novas técnicas não
conduzem à homogeneização social, ainda que causem a elevação do
nível de vida médio da população. Essa teoria tem como ponto de
partida a visão de Prebisch do capitalismo como um sistema que
comporta uma ruptura estrutural, sistema que ele chamou de
Centro-Periferia. Prebisch atribuiu essa ruptura ao fato de que, em
certas áreas, o progresso técnico penetrou lentamente
concentrando-se nas atividades que produziam matérias-primas
destinadas à exportação. Ele não aprofundou o estudo dessa
hipótese, mas as ideias que semeou alimentaram a pesquisa na América
Latina no curso de minha geração (FURTADO, 1992, p. 7).
O Brasil, nação de mais
500 anos, apresenta indicadores sociais preocupantes. Sua taxa de
analfabetismo das pessoas a partir de 10 anos, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 9,1% em 2007.
Uma taxa considerada alta e que não reflete a realidade sob o prisma
da capacidade interpretativa da maioria dos leitores, visto que há
um percentual que supera a referida taxa de brasileiros que são
analfabetos funcionais – pessoas que não sabem interpretar ou
compreender um simples texto ou sequer tem a percepção da realidade
que o cerca, e não conseguem, assim, fazer uma leitura crítica da
política nacional.
Em 1979, o coeficiente de
Gini, que mede o grau de desigualdade na distribuição da renda
domiciliar per capita entre os indivíduos era de 0,623, em 2009
registrou 0,543 e, embora o índice tenha reduzido, ainda é
considerado alto. Passados os últimos 30 anos será que a economia
brasileira se desenvolveu a contento? O conceito de desenvolvimento
econômico é amplo e engloba também a distribuição de renda para
o conjunto da sociedade.
Uma pessoa pobre não
pode reproduzir o padrão de consumo de uma pessoa rica. De que modo
uma sociedade como a brasileira, com uma renda per capita hoje mais
ou menos dez vezes inferior à renda per capita das economias
centrais, poderá generalizar para o conjunto da sua população o
mesmo padrão e o mesmo estilo de vida dos países do centro? Isso
não é possível, porque é um problema material, concreto, de
escassez econômica. Nós não temos um desenvolvimento das forças
produtivas capaz de permitir esse padrão de consumo para o conjunto
da nossa população (SAMPAIO JUNIOR, 2004, p. 120).
De acordo com o Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mais de 13 milhões de
brasileiros em 2009 formaram o número de pessoas extremamente
pobres, o que representa mais do que a população de São Paulo. O
que essas pessoas que sobrevivem com menos de US$ 2 por dia poderiam
fazer se, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo necessário
para satisfazer as necessidades básicas é superior à cifra de R$
2.000,00? Então, nos perguntamos o que há de errado no Capítulo
II, dos direitos sociais da Constituição Federal de 1988, que
afirma:
“Art. 7º – São
direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
IV – salário
mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a
suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para
qualquer fim.”
Por que se torna uma
contradição a realidade brasileira e a Constituição Federal?
Todos os direitos acima citados são atendidos com o salário mínimo
vigente? Tal problemática evidencia que as forças do mercado no
Brasil precisam evoluir para um patamar de remuneração pela força
do trabalho capaz de satisfazer as premissas da economia, visto que o
salário representa o preço da mão de obra no mercado de trabalho.
Ou seja, os salários que os trabalhadores auferem devem
garantir-lhes o poder de consumir produtos essenciais, pois só dessa
forma os desequilíbrios no sistema econômico serão minimizados.
A estabilidade econômica
alcançada com o Plano Real, a solidez do sistema financeiro e a
capacidade que o país demonstrou ao enfrentar a crise financeira
mundial de 2008, permite perceber que ao mesmo tempo em que o Brasil
possui indicadores econômicos positivos em alguns segmentos, de
outro modo, se depara com um grande desafio a ser superado a longo
prazo: melhorar os indicadores sociais para tornar-se de fato uma
economia desenvolvida em seu conjunto.
Dentro desse contexto, a
interpretação que se faz do desenvolvimento da economia brasileira
é que não houve a ruptura com o subdesenvolvimento em certos
aspectos, houve apenas certa modernização ao invés de
desenvolvimento, porque na verdade o atual modelo econômico ainda
não é capaz de romper com alguns laços coloniais.
Referências
FURTADO,
Celso. O subdesenvolvimento revisitado. Economia e Sociedade, v. 1,
ago. 1992. P. 5-19.
SAMPAIO
JUNIOR, P. S. A.. Desconstruindo o Velho Modelo. In: Ramalho, J.P. e
Arrochellas, M.H.. (Org.). Desenvolvimento, Subsistência e Trabalho
Informal no Brasil.: Ed. Cortez, 2004.
Constituição
Federal. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República
Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998.
*Danillo
Teles de Britto Bispo é economista baiano formado pela Universidade
Estadual de Santa Cruz.
A globalização está trazendo benefícios para os países mais pobres?
Diante
das mazelas da desigual geração de renda e sua perversa
distribuição no mundo, principalmente em países cujas economias se
encontram em fase de desenvolvimento, as organizações que em tese
têm seus objetivos pautados na defesa da equidade social, deixam uma
grande lacuna nesse quesito. Dito isto, diante dos debates acerca da
reestruturação do papel das instituições que governam o mundo, há
um tema que se destaca, o qual abarca a forma da globalização atual
e suas implicações desfavoráveis, e sendo assim, surge o
questionamento: a globalização está realmente trazendo benefícios
para os países mais pobres?
Discutir
a globalização é uma abordagem relevante em razão da acumulação
de capital que a economia mundial alcançou nos últimos anos, além
disso, pelas distorções na distribuição de renda ocorridas
principalmente nos países em que há grandes disparidades regionais.
A
leitura que se faz da economia mundial, nos últimos tempos, com a
liberalização dos mercados, por exemplo, é que alguns países
aumentaram sua riqueza, enquanto outros continuaram ou aumentaram seu
nível de pobreza.
A
globalização como o fluxo de bens e serviços, capitais e
mão-de-obra, tem o poder de elevar os indicadores econômicos dos
países, pelo fato de facilitar as trocas internacionais. No entanto,
a maneira como essa integração é feita coloca os países, cujas
empresas são menos competitivas, em condições difíceis. O intenso
fluxo de capitais, nos primeiros anos da década de 1990 demonstrou
de modo superficial ganhos para todas as economias envolvidas no
processo, com expectativas de prosperidade sem precedentes. Mas, com
o passar do tempo, a liberalização dos mercados tornou-se
paradoxal, no sentido de que muitos se posicionavam contra, pelo fato
de que cada país utilizava de “vantagens comparativas” para
manter-se competitivo no mercado mundial, quer seja na agricultura ou
na indústria, com fortes impactos negativos no mercado de trabalho,
na esfera cultural e social.
De
acordo com as estatísticas e relatórios, reconhece-se que a
globalização trouxe fracassos para muitas economias, e que se faz
necessário a sua reformulação para se fazer cumprir as suas
premissas. Para tal feito, é preciso que haja uma ruptura do modelo
atual de globalização, e nesses termos, destacam-se questões
relevantes que se colocam em pauta na atualidade, tais como, pobreza,
financiamento internacional e dívida externa, anseios por um
comércio mais justo, proteção do meio ambiente e um sistema de
governança global defeituoso. Com relação ao meio ambiente, dado
os padrões de consumo tão distorcidos de alguns países
desenvolvidos, é preciso alinhar crescimento e utilização de
recursos naturais de modo racional, visto que o aquecimento global é
um desafio que se coloca diante da globalização.
Há
um consenso de que o sistema de governança global é defeituoso,
visto que as decisões de âmbito global são tomadas de maneira
unilateral. Com isso, os países em desenvolvimento não possuem
representatividade alguma, o que demonstra a ausência de pluralidade
de opiniões e discussões na busca da melhor decisão sobre o futuro
da economia mundial. Dito isto, os organismos internacionais que
foram criados com o objetivo de ajuda mútua diante da
interdependência global, não exerceram seu papel na busca de
solucionar problemas para garantir a estabilidade mundial.
Segundo
Joseph E. Stiglitz (2007), relatórios apontam que em todo o mundo,
com exceção da Ásia Meridional, dos Estados Unidos e da União
Européia (UE), entre 1990 e 2002, as taxas de desemprego aumentaram.
Em 2004, foi divulgado um relatório produzido por uma comissão
integrada por Stiglitz, em que o desemprego global havia alcançado
um novo recorde de 185,9 milhões de pessoas, além disso, a comissão
também concluiu que 59% da população mundial morava em países com
desigualdade crescente, com apenas 5% em países com desigualdade em
declínio. Na África, aumentou a população que vive na miséria,
em 1981 era de 41,6%, passando para 46,9% em 2001. Levando em
consideração o aumento da população, isso revela que o número de
pessoas vivendo na extrema pobreza saltou de 164 milhões para 316
milhões.
Com
base nesses estudos realizados, a conclusão que se tem é que o
modelo de globalização que aí está gera muito mais distorções
do que equaciona problemas de ordem econômica, política e social,
ou seja, a riqueza gerada está muito concentrada, sabe-se que a
concentração de renda tem efeitos perversos no processo de
desenvolvimento econômico. Portanto, é preciso mudar o
direcionamento do atual modelo de globalização, do fluxo de bens e
serviços, do contexto dos mercados, e tal mudança só é possível
se pensarmos a economia como meio de troca onde todos podem e devem
ganhar. É possível um mundo de comércio mais justo, de equidade
social, um mundo em que a própria vida e o meio ambiente sejam
colocados acima de qualquer interesse econômico ou político, porque
a problemática está em como a globalização foi administrada.
*Danillo
Teles de Britto Bispo é economista pela Universidade Estadual de
Santa Cruz – UESC.
Referência:
STIGLITZ, Joseph E.
Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia da Letras,
2007.
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